QUANDO NASCEU A VONTADE?



Aí que eu te pergunto, mas quando o médico teve vontade de ser médico? E o advogado, o bombeiro...


Alguns dirão que por exemplos na família, status, desejo... Mas quando falamos na profissão professor, acredite é uma profissão, e não comum muitos dizerem “aah tá... você  é professor e faz mais o quê?! 

Fato é que mesmo o médico, bombeiro, dentista, publicitário apresentaram afinidades com a profissão em algum momento da vida assim como aconteceu(ce) com o professor. Precisamos incinerar esse viés retardado de acreditar que professor é dom divino, vocação religiosa para ensinar, amor por educar ou o mais absurdo de todos “quem ama educa”... 

Professor precisa de estudo, pesquisa, aperfeiçoamento, pós-graduação e investimento se queremos ser um profissional de excelência. Às vezes ter mestrado ou Doutorado não significa muita coisa, às vezes umas cifras a mais na conta, mas nada que não retire nossa saúde mental dos eixos, portanto achar que alguém estará dentro de uma sala de aula à frente de seres humanos sem preparo filosófico humanístico nenhum; é alimentar esses devaneios sociais de achar que professor é uma profissão dedicada a maternidade. Me recordo de um excelente livro de Paulo Freire Professora sim, tia não – cartas a quem ousa ensinar (ele aqui free pra você ler BB), onde ele reflete sobre um concepção, que ao meu ver não pode ser ideológica, enfatizando o docente ao ser chamada de “tia”, acaba por eufemizar a sua formação; dentre outras visões interessantes sobre diversos ensinamentos para quem está em exercício em sala.


De certa forma, acredito eu que qualquer profissão é baseada no despertar da experiência que vivenciamos na vida ou por uma fase ou passagem que tivemos; seja ela positiva ou negativa. Experiências nos marcam e tive maravilhosos professores que me inspirei e outros 'aulistas' (denominação dada a qualquer ser que vai lá na frente da sala e fala qualquer coisa achando que está filosofando) que me esforcei a quem não ser. Optei por ser professor baseado na afinidade que mais tarde tornou-se profissional, em ensinar.  Não passou muito pela minha cabeça a quantidade de dinheiro que poderia ganhar. Aliás outro ponto que precisa ser ressaltado é o salário que a categoria amarga em saborear, que convenhamos, chega ser ridículo. Neste aspecto permeiam questões pesadas sobre política, interesse público sobre o salário de um professor, o segmento (privado paga melhor, mas suga sua alma e o público anda a quem – em outro post irei tratar dessa faca de dois gumes), a jornada de trabalho e a formação que garante alguns penduricalhos no salário ao final do mês.


Professor exige formação de Licenciatura Plena que nos obriga a conhecer onde surgiu a escola e como ela funciona. Como fazer melhor e qual estratégia funciona bem em uma aula. É aprender a planejar, elaborar um plano de aula, é ter 50 olhos e 30 ouvidos ao mesmo tempo, é treinar diante do espelho uma oratória, é exigir de si o melhor e ao final da aula se convencer que ela poderia ser melhor se fosse assim ou assado. Sem citar as horas perdidas entre correções de provas em casa, aulas para montar, práticas de ciências pra testar, gastar com Xerox e mesmo assim o famigerado do aluno nem aí pro documento, é encher os olhos d’água com vídeos de alunos humilhando e hostilizando professores; mas também se emocionar com as cartinhas no armário, com sorrisos, com as declarações de vitórias, é vibrar ao ver um ex-aluno aprumado na vida e com os abraços nos corredores.


Queremos não reconhecimento só por parte do governo, da ONU... mas reconhecimento da importância que nossa profissão carrega e não é alimentando discursos engajados de que até mesmo o médico teve um mestre a ensinar; é afirmar a dignidade íntegra da nossa profissão não aceitando discurso como os que escrevi lá em cima, mas é não permitir que um estudante de engenharia possa assumir uma sala para “dar aulas” de matemática sem a mínima preparação didática e sociológica para isso. Falar da carreira e os motivacionais que decoram a vontade de enfrentar uma sala de aula permeia mais a satisfação do dever cumprido que o próprio prestígio da sociedade em si. Passa pela própria questão do consolidar da profissão no país que passou por altos e baixos na época do  Brasil Império até chegar à um modelo tecnicista na década de 70 que fez com que o estigma do decoreba cravasse como cicatriz no modo de ensinar até hoje, com o advento da Escola Nova nos anos 2010 que de nova é só mesmo a dor de cabeça que o profissional enfrenta em sala com a marginalização do ensino e a tal “Geração Nutella”.


Por menores e afirmando pra você caro leitor que chegou agora, ser professor exige dedicação em qualquer outra profissão, que obriga a cumprir horários, a ser sério e ético, a se vestir de forma adequada, a se impor quando for necessário e ser otimista diante de qualquer dificuldade. Em resumo, escolher ser professor vai muito mais além do querer, é aperfeiçoar-se em busca de uma certeza coerente na sua fala e prática social 🔃 recomendo o enfadonho, porém essencial, livro Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire, porque professor tem sim uma função social e bem árdua! 

Até a próxima 

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