DESPRESTÍGIO DA PROFISSÃO DOCENTE




Em um post anterior havia mencionado sobre o que motiva alguém a seguir uma carreira, seja médico, bombeiro ou dentista, todos partem de um referencial. No caso da profissão de professor, sabemos hoje que referencial nenhum a nossa sociedade brasileira sustenta quando falamos na carreira do magistério.

Dados de um estudo sobre a preferência na carreira docente aponta que 1 em cada 4 dos melhores alunos do ensino médio preferem a licenciatura no Brasil. O que acontece diferente na Coréia do Sul, onde as escolas estão entre as mais conceituadas do mundo. Lá, só os 5% mais bem avaliados num exame nacional podem ser professores. Já na Finlândia, outro exemplo de sistema educacional bem sucedido, o candidato a professor deve estar entre os 10% com as notas mais altas.

Poderia citar que o desprestígio da carreira docente no Brasil começa mesmo lá na década de 70 com a massificação do ensino tecnicista que alimentava a demanda de mão de obra operária. Conforme o professor Dermeval Saviani, da Unicamp, “a opção dos governos foi atender mais gente com praticamente os mesmos recursos. Por isso, os salários foram reduzidos e o prestígio do professor diminuiu muito” É como se o governo trata-se o docente como mais um mero funcionário público. De modo geral sabemos que os critérios para contratação de docentes temporários pelos municípios não seguem critério éticos e dignos de contratação atrelados a profissionais medianos, seja por formação precária ou condições insalubres de formação, ou até mesmo por questões políticas que não regularizam ou criam métodos mais fidedignos de contratação desses profissionais. Às vezes concursos que são uma verdadeira maratona olímpica exigindo critérios absurdos dos candidatos ou bancas examinadoras que dispõem avaliações fora da realidade dos docentes brasileiros.

Não há post suficiente para discorrer sobre a situação crítica e política que o país assume quando se fala de educação. A mídia fatalmente não possui interesse verdadeiro para mudar essa impressão, mas bem que poderia mostrar, se quisesse, que a desvalorização social do magistério não aconteceu por acontecer. A imprensa só se lamentou balançando os ombros e a sociedade – a classe B e C – não bateu panela quando os salários dos professores da rede estatal começaram a viralizar nas mídias sociais.

Me lembro em uma das aulas de políticas educacionais lá na graduação quando minha professora discorria sobre a primeira greve de professoras no Brasil, em que o contexto da profissão era algo inofensivo, pacífico, maternal, apenas mulheres professorinhas querendo atenção... Entendeu-se da gravidade do fato quando crianças não tinham onde ir buscar educação e conhecimento. Nada tão distorcido dos dias atuais.

Imagem de Cícero lopes (http://www.cicero.art.br/novoSite/)

Outro ponto que merece reflexão é o abandono do magistério que também leva o índice do desprestígio da classe onde se analisarmos as histórias de vida profissional de ex-professores, podemos levar em conta os fatores de ordem externa como quadro social do país, salários humilhantes, agressões sejam elas físicas o psicológicas, condições do trabalho docente, pressão social, dentre outras que são determinantes para o abandono, bem como as disposições internas dos indivíduos como insatisfação, depressão, angústia, baixa-autoestima que podem nos levar a compreender como os fatos e acontecimentos são percebidos e vivenciados pelos professores e como se combinam para desencadear o abandono.  Como afirmam (LAPA, BUENO, 2003):
O abandono, como será visto, não acontece repentinamente. Várias etapas, em geral muito difíceis e conflituosas, são vividas pelo professor até que ele tome a decisão de deixar definitivamente a escola pública ou a própria profissão docente.
Na contra mão, apesar de que a meu ver não seja nos dias de hoje isso, existem aqueles que escolhem o magistério porque o curso superior na área é mais fácil de entrar, barato e rápido e o contexto social da profissão, pois se percebe que o ingresso na carreira do magistério é por pessoas mais pobres. As carreias de status social como médico, advogado ou empresário são reservadas às pessoas com condições sociais mais elevadas (outra vez batemos na questão referencial que temos para uma carreira). De fato sabemos que a licenciatura é estritamente feminina. Pode haver aqueles que ferreamente dirão que não, mas é um perfil feminino que marca a profissão desde a década de 30. E em escolas de ensino elementar ou infantil nunca constatei professores no exercício da função quando educa-se crianças. Essa é uma barreira intransponível assim como na administração secretárias são mulheres e não homens.

Claro se fosse um post investigativo de um estudo mais aprofundado diria a você leitor onde de fato surgiu o desprestígio, mas de maneira superficial, ocorreu lá na década de 20 na França com professores que se sentiam desprestigiados com baixos salários, além da organização e as condições do trabalho docente serem muito precárias. Isso lá no período do pós-guerra. Então é bem mais crônico de que se imagina. Posso afirmar pra você que a sociedade se divide na era anterior a Freud e posterior a Freud, analisando de modo psicanalítico, porque a década de 70 foi a era do excesso e foi nesse período onde a educação brasileira já custava a se consolidar e se manter, com todos os entraves e de forma reprimida, passou a ser tratada no geral; de modo que o sujeito passou a se observar impelido a se exceder, a abusar de tudo que a sociedade impõe e nesse contexto a educação mergulhou diretamente para num buraco negro que até hoje não sabemos mais onde foi parar o espaço e tempo relativos.

Por fim, acertivamente o desprestígio com a profissão docente nasce de uma condição social da qual o próprio processo na escolha e nas condições que a sociedade capetalista capitalista coloca na profissão de professor corrobora a ação e o ingresso de pessoas que ‘escolham’ ser professores. De modo generalista, o desprestígio com a profissão docente acontece porque a sociedade não foi instruída a criar laços afetivos e de patriotismo em compreender que a educação é um agente transformador das relações com o mundo que nos cerca. Não é um discurso de libertação de frente trabalhista, mas um modo de mostrar que um país que investe em educação não permite que os nossos direitos sejam violados. Porque quando noticia o mau desempenho da maioria dos alunos nos exames nacionais de avaliação, deixa em segundo plano, ou nem mesmo menciona, uma das causas básicas do fracasso disseminado – a desvalorização social do magistério, que afugenta da profissão muitos daqueles que, de outro modo, fariam a diferença nas salas de aula.

Até o próximo Post! 



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
WEIS, Luiz.NO QUE DEU O DESPRESTÍGIO DO PROFESSOR. Observatório da Impremssa. 2008. Disponpivel em:<http://observatoriodaimprensa.com.br/codigo-aberto/no-que-deu-o-desprestigio-do-professor/>. Acesso em: 12. out. 2018.

LAPO, Flavinês Rebolo; BUENO, Belmira Oliveira. PROFESSORES, DESENCANTO COM A PROFISSÃO E ABANDONO DO MAGISTÉRIO. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/n118/16830.pdf>.

FRAGA, César. O PROFESSOR NA CORDA BAMBA. Revista Extra Classe. 2017. Disponpivel em: <https://www.extraclasse.org.br/edicoes/2017/03/o-professor-na-corda-bamba/>.

Caso possua algo de sua autoria e julgue reivindicar, entre em contato comigo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUROR PEDAGÓGICO... SERÁ QUE É MESMO?

MODELO DE PLANO DE AULA PELA BNCC

COMPETENCIAS SOCIEMOCIONAIS PARA EDUCAROES: MODINHA OU DESCONSTRUÇÃO DE UM MODELO CAPITALISTA?