DICAS A QUEM OUSA ENSINAR



Não há uma fórmula preestabelecida ou um padrão normativo no comportamento do ‘ser professor’ quando ele está dentro do espaço natural. Há alguns de dirão que professores são uma classe muito desunida, outros que dirão que professor é uma classe amargurada, outros ainda que vão afirmar que só reclamam... Isso é subjetivo, porém as ideias desse mito podem confirmar. Como passei por dezenas de escolas nessa minha trajetória, já vivenciei muitas situações desagradáveis e desconfortáveis com relação ao “tipo” de pessoa com quem interagi no processo de trabalho bem como excelentes e muito prazerosas relações de amizades que duram até hoje. É a lei de Murphy ou a sorte de estar na escola certa, na hora certa com pessoas corretas. Você poderá ter a sorte de encontrar escolas magníficas, com um corpo docente profissional – onde você sai leve e feliz depois de um dia de trabalho – ou uma escola onde você se sentirá no muro das lamentações.

As relações entre Homo sapiens resultam em conviver com pessoas de culturas muito diferentes e, às vezes, seres humanos que vivem da famosa síndrome de Grabriela (Eu nasci assim, eu cresci assim e serei sempre assim) que tornam-se aliens intransigentes e de difícil convívio. Minha avó chamaria isso de gênio forte, mas eu prefiro chamar de vida sexual desastrosa amargurado mesmo. Os mais espirituosos podem dizer que são modos de lidar com pessoas difíceis no trabalho, mas acredite muitas das vezes tentamos ensinar nossos alunos a serem mais tolerantes, a conviver com as diferenças, a lidar com as desavenças e tals e tudo isso cai por terra quando estamos convivendo em trabalho com outros seres humanos professores. Não que a classe professor seja um derradeiro lamento e mar de intransigência, mas prepare-se para entrar em um campo minado. Sou uma pessoa que gosta de estabelecer laços e formar conexões, porém sou bem realista mediante as coisas da vida. Então se você é um professor novato que nem faz ideia de como é ou como funciona essas conexões escolares, preciso lhe avisar que professor é um bicho estranho


Existem certos ambientes de trabalho escolar que são verdadeiros exercícios de paciência!
(Imagem Ilustrativa: disponível em https://www.milldesk.com.br/wp-content/uploads/2016/03/pessoas-dificeis-projeto-TI.png)

Acredito que o primeiro obstáculo a ser vencido é adaptar e conseguir conquistar ou despertar a empatia nos outros semelhantes*, pode até não parecer mas só por ser nós mesmos já iremos despertar ódio e inveja em outros professores, isso é fato! Fora o preconceito por aqueles dinossauros com mais de 30 anos de docência que acham que já viram de tudo e nos tratam como mais um na multidão sem nenhum ‘Q’ de cortesia. Apesar de que eu defendo muito uma atitude na minha prática pedagógica chamada de ‘acolhida’.
Acolher o outro é mais que a obrigação de qualquer ser humano independente do credo, cor, condição sexual ou motivo qualquer. Acolher o outro mostra cortesia e humanidade, coisa que falta na Terra. É hediondo você chegar em um lugar e não ser notado ou recebido, e existem escolas onde eu já passei por isso e certamente um dia você vivenciará. Acolher é sinônimo de educação e indício que as pessoas trabalham em equipe. Pense nisso e sempre que puder, mesmo que você seja um recém-chegado ao ver outro novato no ambiente; acolha! Você não perde nada com isso, muito pelo contrário, ganha empatia!

Falando de dicas, já que o post de hoje evoca isso, é ser você. Chegou em uma escola ou em qualquer outro ambiente; observe as pessoas. Lembra-se do estágio I? Aquele que você observa? Então, aplique isso aqui. Observe os professores, cumprimente quem te cumprimenta; sorria quem sorri para você e permaneça sem reação pra quem te ignora. E não sofra com isso, porque você está ali na escola à trabalho e não pra fazer “amiguinhos”. O que acontece posteriormente são consequências do seu potencial. Eu já sofri muito com intrigas e atitudes mesquinhas de colegas de trabalho, isso mesmo; acredite existem pessoas que tem inveja do seu trabalho e querem lhe prejudicar e pessoas que não suportam sua presença e fazem de tudo para lhe prejudicar. É a coisa mais recorrente do mundo em uma escola e acredito que em outro ambiente também. Parece conto de horror, mas o aluno é o que menos lhe dá problema. Ousar ensinar é além de tudo saber brincar uma dança de cadeiras com os semelhantes!

De certa forma, ao chegar à escola apresente-se, observe os outros, escute, sorria e seja você. Recomendo ter cuidado ao assumir posturas fortes de opiniões ou ideais políticos logo de cara nos primeiros dias, até mesmo pra evitar gerar conflitos desnecessários. Nesse processo é bom ir por etapas e analisando aqueles que têm mais afinidade com seus hábitos e pensamentos, pois é nesses tipos de semelhantes que podem ajudar muito ao longo do seu trabalho.

Claro, que todo ambiente escolar tem a parte burocrática que envolve os horários, os documentos e os desgastantes diários de classe. Na última escola onde trabalhei estavam em transição do diário de papel para o digital que no final das contas não dispensa totalmente o uso de papel, porém o diário tradicional de papel é mais desgastante. Em resumo, não existe um modo padrão de lidar com o diário de papel, portanto cada escola adota seu método. Mas entre todas os diários sem rasuras, sem manchas, letra legível e anotação da aula do dia é obrigação para todo professor; se não fosse assim, não se chamaria diário de classe.

Adote caneta azul para notas dentro da média e vermelhas para as notas abaixo. Zero também é nota e merece ser incluída quando assim for. Usualmente Eu marco um traço quando o aluno não fez ou não entregou determinada atividade e consequentemente anotado no diário sobre o ocorrido. As datas das aulas são marcadas de acordo com as aulas que se tem naquela turma no dia, isso quer dizer que se têm duas aulas na turma, duas datas marcando essas duas aulas. Em Minas Gerais a presença é marcada por um “ponto” ou “pinguinho” no estado de São Paulo é um “c”.

A seguir um vídeo muito bacana da Professora Fernanda Feliciano que complementa algumas dicas e esclarece as dúvidas sobre este calvário, se sua escola ainda adota o modelo tradicional. Em Minas Gerais o modelo já adotado é o digital e o Rodrigo Dias ensina nesse vídeo como usar esta ferramenta passo a passo.

Outro ponto que merece ser lembrado é a postura do professor em sala, pois é preciso desenvolver a acolhida, empatia, profissionalismo e respeito com os educandos e a forma como os tratamos. Sei quem nem sempre isso é possível, comigo mesmo aconteceu várias vezes de ser ignorado, ser criticado e inclusive tacarem objetos em mim. A vontade que tive em determinadas situações foi de abandonar e voltar para casa, porém o “Q” profissional falou mais alto e a paciência (que hoje tenho até demais) foi no mantra da água mole batendo na pedra até furar. Claro que paciência tem limites, mas nos dias de hoje a aceitação do aluno com relação ao professor leva dias ou até meses, e quando isso acontece, o trabalho flui magicamente. A relação de postura permeia em valores que nascem a partir das vivências do dia a dia. Por exemplo: um aluno no início do ano letivo, na turma de ensino médio ou fundamental espera ansioso por conhecer seu professor novo para começar seu processo de aprendizagem. Então, neste mesmo instante penetra a sala um ser arrogante, cheio de si mesmo, com ar superior  aos seus alunos. Esta situação seria decepcionante e desestimuladora, sem falar que já de impacto causaria a antipatia em todos os alunos. É como se ali nascesse um Muro de Berlin. Lembrando que os moldes de educação de hoje não são mais como os da década de 50 e 80 onde usava-se de métodos pedagógicos mais rígidos assim como sustenta Laura Kubata: "Naquela época, os alunos viviam em outra atmosfera social, os valores atuais são bem distintos dos da época em questão" (KUBATA, 2012). Fato é que os alunos podem fazer o que quiserem com o professor, porém ele; a parte racional, não pode adotar o método recíproco desse comportamento. Não vem ao caso discutir isso no momento, porque como coloca a nos refletir Paulo Freire “a humildade se faz tão necessária a prática pedagógica para um professor que deseja ter uma atitude positiva em sala de aula”:

"O meu respeito de professor à pessoa do educando, à sua curiosidade, à sua timidez, que não devo agravar com procedimentos inibidores exige de mim o cultivo da humildade e da tolerância."(FREIRE, 1995.p.63)

Ao ingressar no ambiente escolar devemos encher nosso peito com amor, carinho e alegria, fazer das indagações, dos problemas de nossos educandos também nossos. Claro que sentimentos alegres não pagam conta, porém não menos importante o comprometimento e a distinção entre professor/aluno é essencial. É impossível exercer a docência sem nos comprometermos por inteiro com a discência e a decência. Trajar-se de modo adequado e que diferencie-nos dos demais é fundamental para um professor. Atuar na sala de aula (os mais experientes dirão manejo de turma) é uma das principais competências do professor, teoricamente a postura, linguagem e aparência são requisitos básicos para uma boa atuação, contudo é imprescindível que a comunicação na atualidade seja harmoniosa, saudável e adequada a cada faixa etária. Desafios da sala de aula surgem todos os dias, seja perspicaz, tenha raciocino rápido, educar precisa de paciência, provocar uma situação de constrangimento pode te levar ao fracasso, esteja alerta e procure sempre elogiar em público e criticar de forma coerente em particular, com tranquilidade; seja verdadeiro com o seu aluno e resolva com ele os pontos necessários para retomar a harmonia.

Não me simpatizo com Augusto Cury, mas ele tem uma frase que eu concordo plenamente:

“Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem a serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender.”
Augusto Cury
Dessa forma caro leitor acredita-se que o ponto principal é termos certeza quando escolhemos uma profissão. Precisamos saber os possíveis desafios que nos esperam ou pelo menos tentar saber, as dificuldades que serão enfrentadas, as gratificações para que a escolha seja feita de maneira consciente para que todos os resultados obtidos não se tornem frustrantes e assim afetem as pessoas à nossa volta e principalmente a nós mesmo, depois de pensar é a hora de exercer a profissão escolhida e para exercê-la da melhor forma possível é preciso ter um valor aliado a tudo isso: a satisfação e o amor pela profissão e pelo que se faz, pois dessa forma não há como não colher bons frutos nas salas de aulas.

Deixo vocês com esta seguinte reflexão:


 
Abraços, até o próximo post 

REFERÊNCIAS:

"A Postura do Professor em Sala de Aula". Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2020. Disponível em: http://www.pedagogia.com.br/artigos/posturadoprofessor/?pagina=1

Atuação do Professor em Sala de Aula. Disponível em: http://guiadocente.com.br/atuar-na-sala-de-aula/

KUBATA, Laura. A POSTURA DO PROFESSOR EM SALA DE AULA: Atitudes que promovem bons comportamentos e alto rendimento educacional. Periódicos UNIFACEF. 2012. Disponível em: http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rel/article/download/421/404

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUROR PEDAGÓGICO... SERÁ QUE É MESMO?

MODELO DE PLANO DE AULA PELA BNCC

COMPETENCIAS SOCIEMOCIONAIS PARA EDUCAROES: MODINHA OU DESCONSTRUÇÃO DE UM MODELO CAPITALISTA?