FUROR PEDAGÓGICO... SERÁ QUE É MESMO?



É muito comum no meio da graduação ‒ ou no final dela ‒ experimentarmos a regência de uma sala de aula e o graduando sentir um enorme desejo de socializar todo aquele conhecimento acumulado durante anos de estudo para aquelas pequenas mentes sedentas, ou não, de conhecimento. Em outras palavras sempre queremos abraçar o mundo e introduzir ‒ como se fosse num plug in de USB ‒ o pendrive de conhecimento na mente dos alunos. Isso é mais que normal, saudável inclusive, porém frustrante expectativa que ao longo do tempo; quando entendemos a escola, precisaremos organizar as caixinhas e separar o joio do trigo. Mas se você sente lá no fundo que precisa desmistificar algum mito e sente algo impulsionando o plus+ na sua aula, você carrega consigo a veia pedagógica da partilha. Não por obrigação! Mas por prazer. Os céticos de plantão ou aqueles mais velhos de casa (os dinossauros) que já não dão conta mais de adentrar uma sala por 'N' motivos, vão te depreciar e dizer que você sofre de furor pedagógico.

Penso eu que uma aula funciona no método livre de reflexão onde o professor media o tema e estimula os alunos com perguntas e à medida do andar da carruagem a gente media essas questões. Uma boa aula funciona assim e muitas das vezes a gente quer falar de tudo sobre tudo e conscientizar de tudo! Talvez essa ânsia louca de querer mostrar aos alunos que a oportunidade ali que eles tem não foi a que tivemos e assim toca a valsa da didática. Querer dar mais de si, mostrar mais aos seus alunos, questionar sobre atualidades, abrir parte do diálogo sobre aquela viagem ótima que fizemos nas férias ou indagar sobre política faz parte do ambiente profissional e muitos dos dinossauros talvez não estejam mais nessa vibe pedagógica. Totalmente compreensível.

De certa forma a dica que dou à você caro leitor é que no primeiro passo segure seu desejo louco de falar sobre tudo de uma vez só! Vá com calma. Organize-se! Selecione aquilo que realmente faz sentido naquele momento e quais conhecimentos pertinentes são necessários discutir com seus alunos. Poucos professores têm a sorte e o tempo de construir o plano anual de curso que já está, muitas vezes, concretizado; que não torna-se possível ser repensado. Sobre as questões de currículo inclui, portanto, desde os aspectos básicos que envolvem os fundamentos filosóficos e sociopolíticos da educação até os marcos teóricos e referenciais técnicos e tecnológicos que a concretizam na sala de aula (chamados conceitos fundantes). Relaciona princípios e operacionalização, teoria e prática, planejamento e ação. Toda escola possui um referencial teórico sobre currículo ou mesmo no próprio livro do professor existe uma direção sobre como proceder em cada assunto. Cabe então ao professor selecionar aquilo que realmente de fato é de importância e aquilo que não é relevante. Escolas privadas costumam massacrar o professor sobre a pertinência de cumprir todo o ritual do livro didático quase que transformando o livro em um dogma religioso por ‘N’ motivos e o discurso mais imbecil é que o pai do aluno pagou caro pelo material e isso leva todo o trabalho por água baixo. Uma dica boa para não deixar partes em branco do livro ou explicar o inexplicável é o professor estudar e conhecer bem o material de trabalho e os assuntos nada haver dar a famosa pincelada, ou seja, não aprofundar demais comentar sobre e fazer junto com os alunos as atividades sobre aquele tema na aula. Cada professor possui e com o passar do tempo descobre qual melhor método utilizar. No meu caso como tenho mais aulas eu introduzo o conteúdo de forma mais técnica, aprofundada e abrangente com vídeos, reportagens de jornal ou debate e data show, complemento o assunto com o tema tratado no livro e sinalizo para os alunos a qual referência da aula inicial estou tratando. E os exercícios que dão sequencia ao tema do livro, seleciono aqueles pertinentes e deixo como dever de casa para serem corrigidos e discutidos na próxima aula. Na escola pública utilizo quase o mesmo método devido a falta de alguns materiais, mas os exercícios são de minha autoria e em outra linha de raciocínio não tão presa ao livro.

O ponto principal desse post é discutir aqui que a vontade de querer inferir sobre tudo em uma aula não é possível ou às vezes falta tempo ou às vezes sobra tempo. O importante é organizar suas ideias e traçar objetivos reais no plano de aula sobre aquele tema e forma mais coerente utilizando de linguagem mais atual no mundo dos alunos e usar de todos os exemplos possíveis – que chamamos de contextualização – para trazer algo ao cotidiano dos alunos. Nesse vídeo do youtube do canal ‘Novo Professor’ eles dão uma vaga noção sobre preparar a aula e quais critérios melhor se encaixam nesse contexto:


Resgatando o raciocínio, inovar nunca foi demais e isso choca os professores veteranos, choca os professores mais tradicionais. Abre até um precedente para o que é inovador nos dias de hoje e o que é vintage para os demais. Usar smartphones em sala é obrigatório nos dias de hoje e isso não é inovador, é normal no século XXI. Se falarmos sobre geometria e levar uma caixa de pizza pra sala de aula e discutir sobre formas octogonais não é inovador é motivador contextualizável! Isso tudo não é furor pedagógico é vontade de ensinar em uma linguagem mais real, é querer sair em viagem de férias para a praia e querer coletar todas as conchas possíveis e imagináveis e querer levar pra sala de aula para mostrar aos seus alunos. Isso é motivação que muitos picolés de chuchu vão querer te desanimar e dizer que você sofre de síndrome de furor pedagógico.  Não desista e não escute esse tipo de fracassado, porque quem, assim como nós, enxergam ensino em tudo quanto é lado são raros por aí. Eu sempre gosto de fazer dinâmicas, debates e promessas no inicio do ano e nas aulas com meus alunos. É libertador vê-los no final do processo reconhecer que algo mudou neles. Lembro-me de um livro fantástico que comprei em uma dessas feiras que surgem no final de palestras ou cursos de professores do Simão de Miranda Professor não deixe a Peteca cair - free pra vc BB (site do autor) que é leitura obrigatória pra qualquer professor que queira inovar e dar ideias criativas pra suas aulas porque o livro está cheio de estratégias didáticas para sair da mesmice. Recomendo por demais!

A internet também pode ser um instrumento valioso para sua prática e eu não poderia deixar de mencionar ela. Se sua escola não dispõe de internet – você não é o único – pode baixar vídeos do youtube e montar uma aula baseada neles. Já experimentou usar vídeos curtos que exemplificam seu tema em sala? Eu já fiz isso sobre a história do átomo e foi SENSACIONAL. Separei os vídeos mais interessantes e que sustentassem a minha ideia e baixei todos e em sala, de posse do meu computador, fui mediando a aula e usando os vídeos como exemplo. Consegui manter por 30 min meus alunos vidrados no lance! Sempre há um meio ou um método que foge do padrão cuspe e giz e nem sempre os livros didáticos são didáticos mesmo. Cansa ser diferente e tem dia que a disposição não ajuda em nada e acabamos vencidos pelo desgaste da rotina. Mas quer uma palavra de incentivo? Não deixe a peteca cair! Busque em si a motivação suficiente para que pessoas não abram as tais Janelas Killer (até hoje não me esqueço desse termo em umas das palestras da Escola de Inteligência ) para que você seja igual a eles. Pense positivo e coisas boas virão até você caro professor!

Sendo assim, não deixem que te alimentem com essa lorota, não deixem que chutem o pau da sua barraca, ou como dizia minha tia, não venha encaroçar meu angu; porque seu eu gosto de ensinar assim com euforia, satisfação ou prazer o furor é exclusivamente meu!

Até o próximo post!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

PACHECO, M. M. D. R. Currículo, interdisciplinaridade e organização dos processos de ensino. Fundação Hermínio Ometto / Uniararas, 2007.

PERRENOUD, P. Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

Miranda, Simão de. Professor não deixe a peteca cair. Campinas: Papirus, 2006.

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