MUDANÇAS DE PARADIGMA EDUCACIONAL EM TEMPOS DE PANDEMIA


Imagem de apoio da ONU sobre apoio a professores durante pandemia: empregos e salário. 
(Disponível em: http://fepesp.org.br/noticia/8337/)


PRÓLOGO

     Em 2019 surge um vírus com fenômeno de contágio igual ao da Gripe Espanhola, na China, que ocasiona na morte de milhões de pessoas pelo mundo, inclusive no Brasil. Esse fenômeno obriga as pessoas a isolar-se em casa, em teoria, e a suspensão de atividades que comunguem a aglomeração. Muitas foram às medidas para evitar a disseminação do vírus, como o distanciamento social e a quarentena. Para tanto, as escolas estão suspensas de suas atividades e o Ensino Remoto ou EAD ou Virtual tornou-se cotidiano no ano letivo de 2020.

     Dá pra imaginar o caos que isso gerou na população e trouxe à tona milhares de problemas sociais, econômicos e, inclusive, educacionais. Muitas escolas forma orientadas a aproveitarem em ampla escala as ferramentas de tecnologia educacional, como por exemplo, as plataformas e ambientes virtuais de ensino, para garantir os processos pedagógicos de aprendizagem, porém não foi isso que aconteceu, pois escolas públicas foram as que mais sofreram com a chamada exclusão digital, uma vez que os alunos do ensino público não tinham como obter acesso ao material, aulas e aparelhos de celulares que acessassem com qualidade os tais serviços. Ocorreram demissões em massa de professores da rede privada e o ensino remoto consolidou-se como instrumento padrão de ensino nesse período que não foi lá essas coisas...

 

O ATUAL CENÁRIO QUE A EDUCAÇÃO SE TORNOU

     Antes mesmo de falar em pandemia, isolamento social e trabalho remoto o país aspirava uma perspectiva de recuperação e possível alavancar econômico. Podemos dizer que 2020 seria um ano promissor para o país, porém João Bidu errou nas suas previsões para o ano de 2020, mostrando que este ano seria um tempo interessante; como diz um provérbio Chinês: ‘Que você viva em tempos interessantes!’. Que para nós traduziam-se em tempos de agitação, instabilidade e guerra pelo monopólio, em que milhares de pessoas sofrem as consequências. Uma vez que no modo natural das coisas, bem antes Pandemia, eram bastante recorrentes, na nossa vida cotidiana educacional, na forma de uma aceleração temporal, na qual um ritmo frenético sugava nossas energias quase vital; já tão absorvidas pelas necessidades impostas pelo trabalho docente.

      Somado a isso a assombrosa ameaça de atividade concorrencial, seja para manter nossa força de trabalho empregada, ou para torná-la instrumento utilizável, vendável e intercambiável por uma miséria salarial. Processos que valem a pena relembrar nessa “era da emergência” na educação, que sempre se faz em nome de um futuro. Qual ainda eu não sei.

    A educação de hoje tornou-se um objeto mercantilizável onde o primeiro lugar em Medicina ou o segundo lugar em Engenharia Química vende um bom serviço. O trabalho humano com o objetivo pedagógico de formar um cidadão é apenas uma distante etapa do processo. Em outras palavras a degradação do trabalho docente está maquiada juntamente com a impossibilidade de que a relação pedagógica possa conter traços de experiência formativa no sujeito.

     De outra forma é sempre necessário que observemos os efeitos amputáveis que essa era da “emergência educacional”, que sempre está travestida de “em nome do futuro do sujeito” para que não sucumbamos ao um processo degradante e descartável do processo de trabalho. E nos dias de hoje alguém pode se perguntar, mas afinal, ensinar pra quê? Criar cidadãos livres, revolucionários, críticos, úteis, empreendedores, em cada tempo com seu objetivo. Será?


EFEITOS QUE O CAPITALISMO TEM GERADO NA EDUCAÇÃO COM A PANDEMIA

     A questão que reflete hoje na educação no fenômeno pandemia são os meios para educar ou tentar dar sequência aquilo que foi planejado presencialmente. Tudo que se falou mirando na educação na pandemia se reduz às questões da educação à distância, do tele-ensino remoto, da validação das horas de trabalho pelo docente e das cargas horárias didáticas. O fenômeno pandemia e o confinamento só trouxeram à tona a tendência desse e dos próximos séculos, o modo de ensinar já não é mais o mesmo. Não estou eximindo a minha linha de pensamento em afirmar que a profissão de professor será uma das que poderá estar extinta nas próximas décadas, mas talvez o modelo tradicional cartesiano do professor na frente de uma sala "ensinando" algo, este deixará de existir. A introdução da tecnologia na relação educativa passou a ser mediada por robôs, que muitas das vezes, nem se quer passou pelo crivo de algum profissional formado em pedagogia ou se quer em Licenciatura.

     É uma tendência massacrante para boa parte do professorado brasileiro que se concentra nas escolas públicas do país, que nem ao menos tem internet disponível para seu funcionamento. Há ainda professores que relutam em aceitar que seu conteúdo não possa ofertar material digital, na resistência diante desse fenômeno, e da tendência do mercado, para esses professores a resposta será, você estará obsoleto e perderá seu emprego.

    Existem duas diferenças na forma como o método de ensinar trouxe nessa pandemia. O primeiro é o que já está consolidado em algumas Universidades e escolas Particulares que é o Ensino À Distância ‒ o EAD, em que o aluno acessa o conteúdo e depois faz as tarefas no tempo que está previsto e, eventualmente, há salas virtuais para esclarecimento de dúvidas e fóruns para tratar alguns conceitos que são mais complexos; e no segundo, que ocorreu e irá ocorrer, se esta tendência se consolidar, é a introdução de inteligência artificial em que a tecnologia substitui o trabalho humano pela máquina. Vale ressaltar que a inteligência artificial é um último recurso. Baseados em CATINI, 2020:

 "A inteligência artificial só pode substituir o trabalho docente quando este já chegou no grau máximo de exploração e o emprego das capacidades intelectuais já foi suficientemente reduzido, pelo simples esgotamento físico de professores com mais de 3 mil alunos."

     Aos Gestores Escolares, vulgo Diretores de escolas, a resposta ao “Educar pra quê?” vem quase automatizada em forma padrão: preparar para o lidar com a era tecnológica e para o mercado de trabalho, ou para o que se imagina ser o tal trabalho do futuro. Algo bem ‘clichezão’ onde a formação cidadã “aparece” bem oprimida ou associada a formação para o trabalho. Na rede privada ainda é pior, ela vem com o jargão “alcançar os primeiros lugares no índice de aprovação” e gerar indicadores educacionais perfeitos.

   Em posts anteriores eu já havia comentado sobre o processo capitalista influenciando o modo de ser e agir da escola, e nesses tempos de pandemia, de isolamento de ensino remoto; mais que arrebatador, o capitalismo empurra goela abaixo a tendência "empreendedora" na educação. Atrevo-me a dizer que são novos tempos, novas atitudes e novos modos de sobreviver. Parafraseando Gramsci: “O velho mundo está morrendo, e o novo mundo luta para nascer: agora é o tempo dos monstros”. A Segunda Guerra Mundial, Holocausto e a Ditadura foram grandes chagas que a população mundial do século XX enfrentou. E agora, quem são eles? De fato o capitalismo é necessário às pessoas viventes do séc. XXI. Não adianta querer viver uma utopia de igualdade, eu acredito no pós-capitalismo, mas não acredito no capitalismo selvagem como vem praticado. Defendo formas mais interessantes e não tão excludentes como ele vem acontecendo desde então.


EM QUE SITUAÇÃO SE ENCONTRA O PROFESSOR NESSA ENCRUZILHADA?

     De forma verdadeira responder à pergunta “Educar pra quê?” exige não esquecer do fato de que a educação se faz com trabalho. E como tal, acontece de atividade realizada por forças submetidas às mesmas leis do capital que, por meio de suas contradições futuristas-constitutivas, expressa sua crise no massacre da sua própria razão de ser, a força de trabalho. A precariedade e a precarização do trabalho docente são proporcionais ao poder totalitário de quem o realiza na forma de contratantes ou “investidores”, seja ele o Estado, o empresariado ou os fundos de investimento.

     A redução dos postos de trabalho influenciada pela introdução desta nova base técnica de ensino criou uma ampla leva de trabalhadores ditos “geradores de conteúdos online” ou informais. Mais recentemente os aplicativos completam o processo da precarização geral da vida de quem trabalha produzindo o fenômeno da “uberização”. A uberização da vida como forma de trabalho/produção que se universaliza sob o capitalismo neste momento histórico, também chegou à educação ampliando as possibilidades de maximização da exploração do trabalho do professor.

  Em contra medida, o docente se vê refém de um processo agressivo mediado pelas entidades capitalistas que forçam o professor a triplicar sua rotina de trabalho substanciado pela ameaça de improdutividade e término do contrato de trabalho. Não é comum nesse momento de pandemia e confinamento algumas barbaridades mais ou menos graves cometidas cotidianamente na educação para dar conta da produtividade do trabalho, cuja imposição é cada vez maior, mais objetiva e mais precisamente mensurável.

   Em outras palavras, ou você trabalha e faz acontecer virtualmente seu método de trabalho ou quem assume é um robô que faz em maior quantidade aquilo que você faria em 50 minutos ou ainda o risco de ter o ano letivo cancelado e a perda de todos os seus direitos mediante a pandemia.


FINALMENTE O QUE ESPERAR?

  Esse fenômeno da pandemia e do confinamento só alimentou mias a tendência mercantilizável que a educação estava relutante, o progressivo esvaziamento do conteúdo científico da educação básica, sua esterilização ao tratá-la como mera aquisição de conteúdos por meios digitais.

    Ser contra tecnologia? Não! A internet é uma ferramenta excelente! Os equipamentos com os quais podemos trabalhar para lhes dar suporte excepcionais! Mas substituir a importância formativa do educador por mecanismos robotizados e visando a concorrência capital é que não podemos aceitar. De acordo com FIGUEIREDO, 2020:

"É preciso destacar que educação não é ensino, não é instrução, não é auto-educação (para discutir a pretensa autonomia do estudante). Educação é um processo que se dá na interação, na relação professor e aluno, portanto, diretamente entre dois seres humanos".

  É preciso atentar para práticas eliminatórias das quais temos sido cúmplices e suas consequências; assim como para a capacidade da tecnologia subjugar o processo educativo à objetividade das máquinas, num momento em que todo nosso esforço deve se voltar para impedir que a educação seja mais um instrumento da produção incessante de especulação capital.

 

Vamos refletir e até o próximo post! 

 

REFERÊNCIAS:

A Crise Traz Oportunidade para Mudarmos o Paradigma no Ensino Superior. Disponível em: <https://www.semesp.org.br/assessoria-educacional/noticias/crise-paradigma-ensino-superior/>.

CATINI, Carolina. O Trabalho de Educar Numa Sociedade sem Futuro. Disponível em: <https://blogdaboitempo.com.br/2020/06/05/o-trabalho-de-educar-numa-sociedade-sem-futuro/>.

Em Tempos de Pandemia Educação Expõe Abismo entre Ricos e Pobres. Disponível em: <https://ufmg.br/comunicacao/noticias/a-educacao-nos-tempos-do-coronavirus>.

FIGUEIREDO, Lorene. Qual Educação em Tempos de Pandemia? Disponível em: <https://esquerdaonline.com.br/2020/05/03/qual-educacao-em-tempos-de-pandemia-e-apos/>.

 

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