PROFESSORES NÃO SÃO BABÁS DE LUXO!
Pais
ou responsáveis vêm transferindo suas responsabilidades para a escola, que isso
não é novidade já sabemos, contudo, aceitar que seus filhos se submetam de fato
às regras da instituição é que está o problema.
Recentemente
em uma dessas conversas de corredor com um colega de trabalho ele estava
manifestando sua já cansada jornada na vida educacional usando o termo “Babá de
Luxo”. E em que nos dias de hoje os professores são meras babás de luxo com curso
superior que acompanham os filhos em sala. Aquilo em primeiro momento não fez
sentido, mas depois de algumas aulas naquele mesmo dia, cheguei a conclusão sobre
o que meu colega havia desabafado.
Percebemos
hoje um cenário em que os pais estão transferindo verticalmente a responsabilidade
deles para a escola. Verdade é, e como dito antes, vemos pais muito jovens obrigados
a criar uma criança sem ao menos estarem preparados para isso ‒ pessoas
imaturas. Por outro lado, temos famílias abastadas, em que pai e mãe trabalham
fora e são bem-sucedidos profissionalmente, mas não tem tempo para lidar com os
filhos e despejam essa responsabilidade da educação para a escola, mas querem
ditar as regras que a instituição opera. Ou seja, eles querem que a escola
eduque, mas não querem que a escola seja autônoma. Tá aí o conflito que algumas
instituições particulares estão tendo que enfrentar em, muitas das vezes, terem
que engolir certos comportamentos dos pais (em nome da clientela) para ceder a
este tipo de comportamento. Por isso que, assim que aparece a primeira nota
vermelha ou uma advertência ou até mesmo algum problema; os pais invadem a
escola como que em uma ação tática especial do FBI, culpando os
professores – a pretexto de preservar a reputação e o orgulho de seus filhos. Precisamos
estar mais atentos ao desempenho acadêmico e pedagógico que o aluno tem e
deixar de lado a autoestima da criança ou do adolescente. E quando digo deixar
de lado a autoestima, é parar de querer superproteger os alunos de fracassos e
incertezas que a vida acadêmica reserva. Penso comigo que é por isso que ao
chegar na universidade muitos alunos só amadurecem lá pelo terceiro ou quarto
período que é quando a “ficha” de ser autônomo, cai.
O
mundo se modernizou e as tendências que ele trouxe, em algum momento, o que era
para ser um auxílio acabou virando uma obrigação. Os pais 'depositam' seus
filhos nas escolas, pagam caro pelas melhores e exigem que as instituições
assumam um papel que não é delas. Os pais modernos trabalham cada vez mais,
tentando substituir o afeto com bens materiais. Há de se entender que devemos
ser parceiros e não adotar sozinhos essa responsabilidade de educar, que é
papel da família.
É
preciso reconhecer que a formação que o docente recebe na universidade nada tem
haver com a carga de responsabilidade que é exigida nos dias de hoje. Quando
mencionado que os responsáveis necessitam acreditar que não somos babás de luxo
é que, cada vez mais crianças e adolescentes, estão chegando às escolas sem instrução,
sem educação, sem valores de moral, sem condições de viver em coletivo ou até mesmo
sem respeito pelo papel daquele que digamos, educa. Um tempo atrás eu havia
lido um artigo compartilhado no facebook por um seguidor que justamente dava
uma “tapa na cara” dos pais que se sentiam na obrigação de exigir da escola
aquilo que não era papel dela, lembro-me que se chama algo como “O que os
professores querem mesmo dizer aos pais” (What teachers really want to tell parents), em que Ron Clark – professor no estado da Geoórgia E.U.A ‒
profeticamente fala para os pais que nota vermelha ou nota inferior é consequência
do processo. Os pais não admitem, não aceitam e querem blindar seus filhos das consequências
que o processo pedagógico exige e muitas das vezes criticam, humilham, agridem
e criam situações e desculpas para sabotar o processo de ensino e aprendizagem
que os filhos tem nas escolas. Somos profissionais instruídos que trabalham com
crianças e adolescentes todos os dias e frequentemente vemos seu filho sob uma ótica
diferente da sua. Se lhe dermos conselhos, não lute contra. Pegue-os e os
absorva da mesma maneira que você consideraria o conselho de um médico ou de um
advogado. Sofri muito em uma escola particular dessas aí da vida com pais que
vinham enfurecidos quando o conceito caía e já fui coagido a mudar nota de
aluno pela própria escola em função dos pais.
Tradução: "Essas notas são terríveis!"/"Essas notas são Terríveis!"
Imagem disponível em: https://jacquelinereiss.files.wordpress.com/2011/02/79578_460s_v1.jpg
É, são os valores se invertendo – ou se perdendo… 

Uma
das minhas maiores frustrações e angústias é quando eu falo para uma mãe ou pai
de aluno que seu filho agiu de forma grosseira, indisciplinada ou improdutiva e
ela se vira, olha para ele e pergunta: "É verdade isso?"... Ah...
pelamordi, claro que é verdade! Sou eu quem está dizendo. Eu quem estava lá ou
eu iria perder meu tempo aqui. E, por favor, não pergunte se outro professor pode
confirmar o que aconteceu ou se outro professor pode estar presente. São
atitudes como essas que rebaixam a profissão e autonomia que temos e enfraquece ainda a parceria entre
professor x pai. É notória a onda de desgraça e buraco negro que os próprios
pais estão levando a educação e seus próprios filhos coagindo e sabotando as
atitudes e os erros que eles cometem. Alguns pais dão desculpas,
independentemente da situação, e estão criando filhos que se tornaram adultos
que se voltam para desculpas e não criam uma ética de trabalho forte. Se um
aluno tira nota baixa, por exemplo, ou deixa de entregar um trabalho, os pais
vão à escola e descarregam sua fúria e todo tipo de desculpa existente: dizem
que o filho está passando por um momento difícil na família, que a escola é
muito rigorosa ou ainda, culpam os professores, dizendo que eles não sabem
ensinar o conteúdo direito. Mas nunca atribuem o fracasso aos próprios filhos. É
muito frustrante para os professores verem que os pais não querem assumir suas
responsabilidades. Se você não quer que seu filho termine com 25 anos e sem
emprego ou sem uma profissão, sentado no computador ou debruçado em cima da tela de
um celular, pare de inventar desculpas ou acobertar os erros. Em vez disso, concentre-se
em encontrar soluções viáveis para a educação deles e deixe que a escola faça a
sua parte.
Lembro-me
de um amigo polonês que também é professor e de matemática e ele diz que os
mesmos problemas que enfrentamos aqui são os mesmo com relação a estas questões
lá. Não tão absurdos, mas ele menciona que se não tiver pulso firme com os pais
e ajuda da escola, o ensino e a educação que eles tanto conquistaram pode
deixar de existir da noite para o dia e citou em uma de nossas conversas que já
teve advogados no pé dele por meses por ter pego um de seus alunos de 8 anos
colando em uma das provas e que segundo os pais, ele rotulava o garoto de “criminoso”.
Hoje,
existe uma preocupação gigantesca com o cuidado, da proteção, do colo que a escola
dá durante toda a vida da educação básica que essa criança ou adolescente
tem. Em outras palavras uma preocupação em
não fragilizar a autoestima que eles possuem. Por isso, muitas pessoas se veem
obrigadas a dizer à eles que fizeram um ótimo trabalho e que são brilhantes,
mesmo quando isso não é verdade.Isso faz com que eles deixem de aprender que é
preciso se esforçar muito para conseguir bons resultados, inclusive na vida. No
futuro, elas não terão sucesso porque, em nenhum momento, exigiu-se excelência
delas.
Para
finalizar deixo aqui bem esclarecido que pais ou responsáveis tem papel máximo
na educação dos filhos e que escola não faz nada sozinha. É importante que pais
nunca falem mal da escola ou do professor na frente dos seus filhos. Se a
criança escuta os próprios pais desmerecerem seus mestres, abre um pressuposto
para que eles façam o mesmo se não pior e o respeito por eles deixa de existir.
O contrário também é verdade. Professores precisam respeitar os pais, porque
eles são parte fundamental na educação de uma criança.
Pais
parem de superproteger seus filhos e deixem a escola fazer a sua parte! 




REFERÊNCIAS:
GOULART, Nathalia. Professores são educadores, não babás. Disponível em: https://veja.abril.com.br/educacao/professores-sao-educadores-nao-babas/
RESENDE, Fernanda. Professores falam da transferência da educação dos pais para a escola. Disponível em: http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2013/10/professores-falam-da-transferencia-da-educacao-dos-pais-para-escola.html
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