COMPETENCIAS SOCIEMOCIONAIS PARA EDUCAROES: MODINHA OU DESCONSTRUÇÃO DE UM MODELO CAPITALISTA?
Há
muito tempo eu venho retratando sobre o quanto a sociedade dita às regras na
educação. Quanto à sociedade capitalista vem se articulando e corroborando a
maneira de ser da sociedade controlando o que a escola deveria ou não fazer e
analisar a educação numa perspectiva mais sociológica é entender o quanto o
ensino e o que acontece dentro da escola sofre influencia direta das camadas
mais elitizadas da sociedade. Em outras palavras, desde o surgimento da
primeira revolução industrial é que a sociedade capitalista comanda a escola. Hoje
de forma mais sutil, mais penumbrosa. Conforme Jean Claude Monier mesmo afirma em seu livro L’apprentissage de sa condition:
“Hoje em dia, um dos maiores interesses da civilização, em meio ao desenvolvimento imenso da indústria, é a educação dos operários, a educação moral mais que a educação técnica”. E assim vivemos de era em era até a tão sonhada globalização da internet das coisas.
Se
você acompanha os textos do blog até aqui entenderá que o processo de ensino e
aprendizagem deixou de ser um bem social individual de experiências de
conhecimento e bem comum, para um serviço de capital educacional que está
desconfigurando o modo como as relações entre escola, professores e modelo de
trabalho andam sofrendo. É fato que este modelo veio para ficar em nossa
sociedade, mas infelizmente estamos sofrendo sérias rupturas cognitivas e de
relações entre profissionais de educação, seres humanos e sociedade. Com isso
surgiram inúmeros teóricos que analisam uma relação mais humana na escola,
relações mais eficazes de aprendizado, competências que alunos e professores precisam
cumprir e outras exigências que ajudam e também interrompem o modelo natural de
ser da escola.
Sempre
fui contra as tendências pedagógicas contemporâneas, dentre elas as tais 10 competências do professor moderno que me toma uma angústia no íntimo do meu ser se aqueles professores que
mal tiveram condições de concluir um curso normal ou superior lá no oco do
mundo da Amazônia ou se sabem se lá lidar com isso, mas por fim; a cada ano
surgem novas “tendências”, melhor, exigências que nem sei se realmente de fato
na prática são ferramentas ou mais uma maneira de enfeitar prateleira. Como
tudo gira em torno do capital, nesse país que adora copiar modelos e recriá-los
de maneira perfeita – sim somos bons e refazer modelos – dentre as várias
empresas de coach educacional ou
administração educacional, surge uma proposta de humanizar o ensino, mas no
sentido de lidar com situações emocionais do ser humano.
Isso
mesmo que você leu, além do professor saber fazer, saber técnico, aprender a
aprender, avaliar pra quê, ensino personalizado, temas transversais, escola sem
partido, inovação tecnológicas do ensino, TDIC’s – acho que deve ter faltado
alguma - surge mais uma exigência do mercado tendência no ensino; a
famosa COMPETÊNCIA SOCIOEMOCIONAL.
Como
dito anteriormente existem várias empresas que oferecem serviços para o mundo
da educação. Desde empresas de organização administrativas, financeiras, recreativas
e agora de auxilio para lidar com questões emocionais (Augusto Cury). Uma das
que tive contato – não faço nenhuma crítica diabólica ou satanizando à referida
instituição – a famosa e.i. (Escola
da Inteligência) que vem com uma proposta de um programa educacional que objetiva desenvolver a educação socioemocional no ambiente escolar. Que de fato nem sabia que
existia tal empresa com capacidade de tratar e ajudar na mediação de bloqueios
de aprendizagem baseados no emocional. É lindo! Algo fabuloso que te contagia
de tal forma que você realmente começa a achar que está emocionalmente doente e
precisa trabalhar isso em você. Enfim para maiores detalhes dá um “Google” sobre
Escola da Inteligência que você vai conhecer tal programa. Até porque não me identifiquei
afetivamente com esse programa e ele é algo que foge um pouco da realidade de
algumas famílias brasileiras, porém eles têm excelentes materiais de apoio e
somente escolas particulares, que tem condições de pagar por ele é que podem
gozar de tal serviço.
COMPETENCIA
SOCIEMOCIONAIS PARA EDUCAROES, VOCÊ SABE QUE É ISSO?
Em
um mundo onde a internet das coisas domina a razão do ser humano, não seria fatalmente
de outra forma que as pessoas tornariam dependentes das máquinas e perdessem a
sensibilidade para com o outro. Isso é fato! A sociedade capetalista obrigou o
ser humano a viver para o trabalho e exigiu da escola que se formasse
excelentes profissionais para o mercado de trabalho. Porém, máquinas substituíram
seres humanos nas indústrias e seres humanos maquinados surgiram nesse
contexto...
O
mundo vem fazendo um retrocesso, não uma volta no modo de fazer das coisas, mas
em ser mais solidário com o outro. A ideia de competência socioemocional vem
justamente numa exigência de que as pessoas adquiram habilidades de se colocar
no lugar do outro. Em que as pessoas pudessem lidar com as situações que
provocam as emoções mais extremas. Um lugar onde todos conheçam a si mesmos,
suas limitações e seus pontos fortes, que saibam lidar com as diferenças e que
entendam e saibam se adaptar o contexto onde estão inseridos e retomando a
ideia inicial hoje no século 21 a interconectividade está tornando as pessoas
mais robotizadas e menos humanizadas, é o que dizem.
E
como senão bastasse onde poderíamos ensinar as pessoas dessa nova geração da
internet das coisas a desenvolverem, além da habilidade de se conectar; se
conectar com os outros? Isso mesmo Joãozinho, na escola! E olha que depois que
reli três vezes o livro de Mariano
Enguita - A Face Oculta da Escola
- nada que seja mera exigência do mercado tendência educacional eu não
consiga enxergar a sociedade capetalista ditando as regras mais uma vez na educação.
“Os que se davam por contentes com que as crianças do povo, futuros trabalhadores, não recebessem nenhuma instrução ou que esta se limitasse ao doutrinamento religioso tinham os olhos ainda postos na velha sociedade, no Antigo Regime, nas formas de produção que já estavam sendo varridas por outras novas. Provavelmente Necker tivesse razão para a época, quando o terceiro estado se via empobrecido pelos tributos impostos pela velha superestrutura feudal e monárquica, mas vivia ou sobrevivia, ainda, do produto direto de seu trabalho. Mas a proliferação da indústria iria exigir um novo tipo de trabalhador. Já não bastaria que fosse piedoso e resignado, embora isto continuasse sendo conveniente e necessário”. (ENGUITA, 1989: 113).
Mera
coincidência? Talvez.
É
certo que a proposta das Competências Emocionais tentam mostrar que mais
do que a capacidade de fazer cálculos de cabeça, saber se relacionar,
comunicar, trabalhar em conjunto e se adaptar a circunstâncias diversas da
sociedade atual e também olhar para o outro como ser humano isento de cor,
raça, condição sexual e credo; podem ser o diferencial
para um candidato a uma vaga de trabalho. Robôs são detentores de inteligências
artificiais altamente assertivas e são excelentes em tarefas específicas, mas
por esse motivo não possuem sentimentos, e essa é a vantagem dos seres humanos
no mercado de trabalho.
Óbvio
que toda contribuição para formação do indivíduo deve ser muito bem vinda e
essas competências emocionais eu acredito que se não forem aplicadas como
processo em massa de doutrinamento e adestramentos de alunos em escolas será um
pontapé para uma sociedade melhor.
De
outra forma, finalizo este post para que possamos refletir melhor sobre quais
aspectos hoje, nós, educadores e sociedade escolar em um todo, estamos nos aproximando
ou se distanciando do modo emocional de agirmos no nosso dia-a-dia. Se
quisermos sujeitos capazes de se colocar no lugar do outro, estamos também
habilitados e competentes a praticar isso no nosso dia-a-dia?
Até
o próximo post! 

REFERÊNCIAS:
CASARIN, Tonia. O QUE SÃO COMPETÊNCIAS
SOCIOEMOCIONAIS PARA EDUCADORES? COMO TONIA CASARIM PODE AJUDAR. Disponível em:
https://www.toniacasarin.com.br/socioemocionais-para-educadores/?fbclid=IwAR1ZjUj8g6ABQlrXjhACfOSh2TfGeZtNaQjM8Y5sLWqkTs_yunaVWKwOPio
ENGUITA, Mariano Fernández. A FACE OCULTA DA
ESCOLA. Porto alegre: Artes Médicas, 1989.
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